Sobre os adjetivos
O que eu mais aprecio na vida são as qualidades. Um homem é nada mais do que isso. Já um homem, alto, forte, charmoso, inteligente, gentil, engraçado e rico é uma outra história. Quanto mais adjetivos, melhor. Ainda que as qualidades não sejam de todo louváveis, são elas que permitem algum tipo de contato com o desconhecido.
Os adjetivos nos ajudam a fazer sentido do mundo, das intenções. Tente definir a palavra neve, por exemplo, sem utilizar nenhum adjetivo. Pois é isso que um mundo sem eles seria: frio, indefinível, inexplicável. Afinal, os adjetivos evidenciam as nuances da existência material.
Substantivos são rótulos do concreto. O abstrato, a poesia, está na adjetivação. Quando amontadas em uma mesma frase, palavras dessa subcategoria morfológica tornam-se alvo de censura de mentes racionais e altamente substantivadas, praticamente incapazes de digerir uma hipérbole, quem dirá aceitar um paradoxo.
Dizem que um bom escritor deve usá-los com parcimônia, ao que respondo: o único prazer comparável à deliciosa ousadia de descrever exaustivamente tudo que se pensa é o inexorável poder de intensificar tudo que se faz!
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