top of page

O mundo não precisa de mais professores

Há muito, quero escrever um texto sobre aprendizagem. Desde pequena, com minhas pelúcias enfileiradas nas prateleiras de aço rosa que decoravam meu quarto, brincava de ensinar. Queria que elas aprendessem o inglês que nem eu sabia. Depois de anos de instrução e formações, fui lecionar para pessoas de verdade, mas, algo ficou lá naquele recanto infantil. Hoje, 30 anos depois, vejo nitidamente, através do contato com meus alunos, o tesouro que se perde ao intitular-se professor. 


Quando era pequena sabia que não tinha nada a “professar” e que a tentativa de explicar algo para animais de algodão era nada mais do que uma busca pela aprendizagem. Minhas palavras emboladas e sem sentido, caiam em seus ouvidos surdos e ecoavam com uma lição que eu mesma precisava apreender. Diplomas e títulos, entretanto, às vezes, tem o poder de fazer crescer em nós uma empáfia, a que chamo de a “maldição do conhecimento”. Não que o conhecimento não seja benéfico ou um ato nobre em si mesmo, mas quando julga-se conhecer algo, fecha-se o espaço por onde a aprendizagem penetra. Se já conheço, o que mais há a descobrir? Levou algum tempo para que eu deixasse esse rótulo de professora de lado e voltasse a me reconhecer aprendiz.


Essa transformação abriu para mim um novo mundo em que educar é um privilégio, pois consiste em apoiar o outro em seu pleno desenvolvimento e extrair o melhor de si mesmo no processo. “Educare” no Latim significava conduzir para fora o que está dentro. É isso o que tento fazer com meus alunos (do latim alĕre, alimentar, fortalecer), mas é também o que eles fazem por mim.


Escrevo esse texto hoje, porque em um dia em que precisava de coragem, recebi o trabalho de uma aluna que considero um exemplo de força. Apesar de problemas graves de saúde, ela segue, com seus trabalhos universitários e sonhos de intercâmbio. Vive a vida destemida e escreve sobre tópicos intelectualizadamente desimportantes com a mesma disciplina, amor e dedicação com que leva seus dias.  E, no meio da sua redação acadêmica de 3 páginas, encontrei, não erros gramaticais, mas a coragem que precisava para colocar as mãos no teclado e escrever a força latente que surge em mim, cada vez que percebo as virtudes dos educandos que me cercam. Elas ecoam em mim como uma lição que eu mesma preciso aprender.


O mundo não precisa de mais professores, precisa de mais aprendizes.

Comments


WhatsApp Image 2023-03-24 at 10.38.46.jpeg

Olá, que bom ver você por aqui!

Sou Andréia CC Mariano, escritora, educadora, filósofa, yogi, mãe, mulher, brasileira e portuguesa. Cidadã do mundo e amante das artes.

Fique por dentro de todos os posts

Obrigado por assinar!

  • Facebook
  • Instagram
  • Twitter
  • Pinterest
bottom of page