Cá estou.
Mudar. Como é difícil mudar. Mesmo quando o caminho é mais verde e o céu mais azul, o foco
ainda se volta para as nuvens criando sombras na imensidão de novas possibilidades. A mudança, tão essencial para evolução é doída. Cheia de pequenas mortes. Aceitá-las é a questão.
Chegar à Europa, em uma época de pandemia, quando tudo é igual, mas bem diferente foi uma conquista e ao mesmo tempo uma aflição. Desde o bombardeio de perguntas na imigração à ser barrada em um restaurante por não ter certificado europeu de vacina. Respirar os novos ares de máscara cirúrgica, certamente, entra para a lista de coisas que nunca imaginei fazer.
Aterrissar em país cuja língua é a minha, mas não é; morar em uma cidade cujo nome é o meu, mas não é; encontrar com pessoas cujos ascendentes são os mesmos que os meus, mas não são, coloca em cheque tudo o que foi e o que poderia ter sido. Cada página arrancada deste livro me dói. Me dói, mas me deixa mais leve. É um peso a menos para carregar. Sei que as próximas folhas estão em branco e eu hei de escrevê-las à minha maneira. Escrevo em páginas sem linhas, onde tu
do é possibilidade.
Já foram muitas as aventuras, explorando as ruas desta cidade, mergulhando no mar frio de sentimentos borbulhantes, sendo repreendida pela minha falta de entendimento e compostura adequada à cultura Portuguesa. Já que nunca estarei à altura, escolho me deitar. Viverei com os olhos voltados para imensidão, no conforto de ser eu mesma em qualquer lugar onde estiver. Contemplo para viver. Mudo para viver. Aceito para viver. Escrevo para contemplar, mudar, aceitar e VIVER cá, ou em qualquer outro lugar.
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